segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

COLUNA DO QUAQUÁ : O Início de Nossa Luta em Maricá


Poucos sabem, mas não nasci em Maricá, nasci num barraco de “pau a pique” em uma comunidade de Niterói, o complexo de favelas do Caramujo. Vim pra cá com 10 anos de idade morar no bairro da Mumbuca, que na época era um bairro bem pobre, de gente simples e bacana. Ali foram plantadas minhas raízes e ampliada nossa verdadeira família.

Meu pai, um soldado da polícia que não tem nem o primeiro grau, minha mãe uma dona de casa que havia terminado o primeiro grau. A fome rondou nossa casa por um tempo. Arroz, feijão, quando tinha, e cará ou savelha pescados no Rio Mumbuca, fritos no fogão de lenha era a dieta básica. As vezes saíamos meu irmão, meu pai e eu para pescar rã a paulada na beira do rio e da Lagoa. Sopa de rã também me lembra muito esse período difícil e feliz de nossa família.
Estudamos, meu irmão e eu, da quinta a oitava série, no colégio Cenecista Maricá, pois tínhamos ganho uma bolsa de estudos e o colégio era de graça. Entrei lá em 1982. Éramos rebeldes, diria que beirando a delinquência. Mas fomos disciplinados pela maior de todas as educadoras da história de Maricá, Zilca Lopes da Fontoura, a Tia Zilca. O Brasil estava querendo sair de sua ditadura militar e os exilados que haviam sido expulsos já estavam de volta no Brasil. Eu li nessa época Frei Betto, com suas “Cartas da Prisão”; e Fernando Gabeira, com “Nós que Amávamos tanto a Revolução”.
Mamãe era Brizolista. Meu pai simpatizava com ele. Em 1982 assisti entusiasmado a vitoria de Brizola para o Governo do Estado. Será que ele é mesmo comunista? Eu me perguntava, para saber se era verdade a acusação da direita e dos militares. Se Brizola era eu tinha dúvida, mas aquele tal de Lisaneas Maciel e o candidato a Senador Vladimir Palmeira, do tal do PT, o Partido dos Trabalhadores, com certeza eram. O partido deles até usava uma estrela como símbolo, igual ao Vietnã, Cuba e China. Era sem dúvida coisa de comunista. Eu via e me interessava muito por isso aos 11 anos de idade.
Em 1985, na primeira eleição para as capitais eu já estava mais atento para política. Eu me lembro bem que torcia muito pelo Saturnino Braga, candidato do PDT, porque o do PT era meio fraco, um tal Wilson Faria. Um paraíba do povo, que mais tarde viria a ser um grande amigo. Um professor meu de história e moral e cívica, Antônio Augusto, o Guta, fazia a cabeça da estudantada do Cenecista. Guta, principalmente, e Pedro Luterback, de geografia, usavam estrelinha do PT no peito e faziam sucesso entre a juventude. 
Guta era sociólogo formado na PUC, veio daí minha certeza absoluta, aos 13 anos de idade de que não queria ser oficial da policia, como desejava minha mãe, mas sim sociólogo, como meu professor. Foi um dia difícil quando comuniquei isso a ela. Mas como sempre ela entendeu e apoiou minhas opções.Saturnino eleito prefeito do Rio e Brizola controlando a política do Estado, eu que sempre gostei de andar na contramão, resolvi assumir meu amor por aquela estrelinha vermelha, minha opção pela esquerda e minha luta de vida pelo socialismo. Em 1986, junto com uma turma alternativa do Partido Verde, que na época era coligada ao PT, fizemos a campanha de Gabeira para governador do Estado. Sacaneavam a gente dizendo que: “quem da, fuma e cheira, vota no Gabeira!”. Eu não fazia nenhum das três coisas. Mas que a campanha empolgou essa “malucada” empolgou. 

Foi na campanha do Gabeira de 1986 para Governador que começou minha história como liderança de massas em Maricá. Na vinda do Gabeira para fazer seu comício em frente a Câmara Municipal, hoje Casa de Cultura, tinha que ter um representante da cidade para falar pelo comitê municipal da campanha. Todo mundo meio que estava com medo do microfone. Eis que Guta, meu professor de história e moral e cívica, falou: “O Quaquá vai falar.” Além de responsável por eu ter me tornado Cientista Social, foi ele também o responsável pelo meu primeiro discurso em praça pública, falando antes do Gabeira, em frente a Câmara Municipal. Sentei o sarrafo nos políticos da cidade. Logo depois Gabeira, no comício final na Cinelândia, fala que ouviu o discurso de um menino de 15 anos em Maricá, e que isso dava a ele a certeza de que independente dos votos que ele tivesse a campanha já era vitoriosa. Gostei tanto daquilo que não parei mais de fazer discursos e comícios na vida. 
Depois disso, juntei meia dúzia de pessoas e fundamos o PT em Maricá. Na primeira reunião foram muito poucas pessoas: Eu, estudante secundarista; Linguinha, um trabalhador da oposição do sindicato dos rodoviários e ex militante clandestino do MEP, o Movimento de Emancipação do Proletariado;  Simone, uma grande amiga homossexual feminina que nunca mais vi; Luiz da Telerj, trabalhador telefônico, que hoje mora em São Pedro D’Aldeia, e foi escolhido nosso primeiro presidente; Jota, que era bancário oposentado, e foi nosso segundo presidente e Lindaura, sua esposa, que trabalhava em uma estatal no Rio. Isso foi no final de 1986. Os dois ainda moram em Araçatiba, mas nunca mais tive contato.
Naquela época não era fácil ser do PT. Você perdia amigos, as pessoas torciam a cara quando olhavam para você. Tinha gente que mudava de calçada. Em 1988, já no segundo grau eu me transferi para o Centro Educacional Joana Benedicta Rangel, onde me tornei o maior líder estudantil de Maricá. Mas essa história fica para o próximo jornal...

Washington Quaquá - Prefeito de Maricá


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